3 de fevereiro de 2014

As faces de David Bowie

David Bowie sempre foi um artista genial. Pegava uma tendência, se aproveitava dela até as últimas circunstâncias e quando via que aquilo já tinha se tornado entediante para ele, procurava um novo rumo, novas sonoridades e tendências que desafiassem ele a fazer grandes músicas.

Bowie era mais do que um cantor, era um ator que queria unir a parte teatral e interpretativa da arte com a música. Para isto criou personagens em que ele mergulhava tão fundo, que acabava se confundindo com seu próprio ego e na maioria das vezes tinha que matar estes personagens, para que pudesse ficar livre e se desprender daquela situação que não o interessava mais. 


Segundo o jornalista André Barcinski, antes de ser músico, Bowie foi publicitário e sabia muito bem o caráter temporário da imagem no mundo do pop. O conceito de ídolos reais da década de 60 de artistas como Beatles e Jimi Hendrix foi aniquilado por Bowie, que trocou ídolos de carne e osso por personagens.

Em 1972, Bowie já tinha gravado quatro grandes discos, porém ainda não tinha alcançado grande sucesso como artista pop. Neste mesmo ano Bowie lança um disco que seria um marco em sua carreira e na história do rock: The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, disco que contava a trajetória de Ziggy Stardust, personagem criado por Bowie que era um alienígena que caiu na terra e perdeu tudo, menos seu legado.

Bowie teve como grande influência em seu trabalho, o trabalho do Velvet Underground, mais precisamente as letras que falavam do submundo das drogas e das diferenças sexuais e de Iggy Pop. Artistas que não se encaixavam dentro dos padrões estéticos e musicais da música pop, mas que influenciaram várias gerações. Bowie era mais um cronista do que um cantor autobiográfico, seus personagens o deixavam livre para ser um observador.

Em 1972 Bowie também produziu e participou do álbum solo de Lou Reed, do Velvet Underground. O disco Transformer foi a base para o rock Glam feito nos anos 70 e Bowie a partir dali viu que caminho queria seguir naquele momento.

The Rise and Fall... foi um sucesso estrondoso que catapultou Bowie para o status de ícone da música pop. Os fãs copiavam o visual andrógeno do personagem Ziggy Stardust, pintavam o cabelo de vermelho e usavam roupas espalhafatosas para seguirem seu ídolo. Foi nesta fase que Bowie assumiu sua sexualidade, primeiramente se dizendo gay e logo após assumindo sua bissexualidade, algo que foi muito chocante para os padrões da época. 



Em 1973 depois de um ano de uma turnê regada a muito sexo e drogas, Bowie anuncia em um show no Hammersmith Odeon que aquele seria o seu último show. Os fãs pareciam não acreditar e estavam inconsoláveis, mal sabiam eles que Bowie estava matando o personagem Stardust, pois já estava entediado com tudo aquilo e queria uma nova direção para sua música.



Ainda em 1973, o cantor lançou um novo disco e também personagem Aladdin Sane. Aladdin era uma espécie de evolução de Stardust, uma espécie de “Ziggy vai à America” segundo Bowie. O álbum Aladdin Sane ficou em primeiro lugar nos Estados Unidos e deu continuidade ao som Glam que Bowie já estava desenvolvendo no seu trabalho anterior. O personagem mais uma vez foi descartado, assim que Bowie percebeu que aquilo não fazia mais sentido.




Em 1974 lançou o disco Diamond Dogs, disco totalmente inspirado no livro 1984 de George Orwell. Neste trabalho, Bowie já começa a se afastar do Glam e flertar com outros estilos como o Soul e em 1976 cria seu último grande personagem: Thin White Duke. Este novo personagem era um viciado em cocaína, impecavelmente vestido com uma camisa branca, calças pretas e colete. O "Duke" era um homem vazio que cantava canções de amor com uma intensidade desesperada, enquanto nada sentia. Este personagem surge com o álbum Station to Station, que era um disco de transição antes da fase da trilogia de Berlim.







Bowie é um artista que inaugurou o uso do pop como cultura feita para as massas. Ele fazia uma música que era feita para chocar, se aproveitando do que estava a sua volta. Identificava tendências, algo que ele via que poderia funcionar e fazer sucesso e sugava até as últimas possibilidades. Quando aquilo não fazia mais sentido mudava totalmente de estilo e personagem. Não foi à toa que foi apelidado de Camaleão pela mídia musical. Um artista único que leva a arte até as últimas consequências.

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