8 de setembro de 2014

Plastic Ono Band - O grito primal de John Lennon

Após a conturbada separação dos Beatles, em 1970, John Lennon junto com a sua inseparável Yoko Ono deu início ao tratamento criado pelo psicólogo Arthur Janov, denominado Terapia Primal. Tal tratamento consiste em que o paciente, através de muito choro e gritos expresse sentimentos reprimidos de sua vida. É a técnica “Lágrima por medos” (foi daí que a banda Tears For Fears tirou seu nome). Neste procedimento, Lennon tratou de seus traumas envolvendo o abandono de seu pai e a morte de sua mãe.


Depois deste intenso tratamento de quatro meses, John volta para a Inglaterra para gravar seu primeiro disco solo (sem considerar os discos experimentais feitos com Yoko). Para a produção, contou com a ajuda de Phill Spector, que já tinha trabalho no disco Let It Be dos Beatles. O álbum contou com Ringo Starr na bateria em algumas canções, Alain White na bateria das outras músicas, Klaus Woorman (amigo de Lennon da época que os Beatles tocaram em Hamburgo no começo de carreira) no baixo, e Billy Preston nos teclados. 

O disco John Lennon/Plastic Ono Band foi lançado em 11 de dezembro de 1970 é o resultado da Terapia Primal em forma de música. Neste álbum Lennon exorciza seus traumas de infância e também o fim dos Beatles em onze canções dilacerantes, com uma sonoridade econômica nos arranjos, mas complexas em suas emoções.

“Mother” começa ao som de tenebrosos sinos, e acompanhado somente de piano e bateria Lennon fala sobre sua mãe, que deixou a criação dele a cargo de uma tia e só reapareceu em sua vida quando John era adolescente (e acabou morrendo após um atropelamento) e de seu pai que o abandonou ainda pequeno. A letra é uma das mais emocionantes de Lennon: “Mãe você me teve / mas eu nunca tive você” e no final “Mãe não se vá / Papai volte para casa”. 



“Hold on” é uma mensagem de apoio a Yoko em relação às críticas que ela sofria por ser responsabilizada pelo fim dos Beatles. Era uma forma de dizer “agora somos nós dois contra o resto do mundo”. Em “I found out” Lennon fala sobre a liberdade que acabou de descobrir e ainda alfineta seus ex-companheiros de Beatles como nos trechos: “O velho Hare Krishna não é melhor que você / Apenas deixa você louco com nada para fazer / Mantém você ocupado com uma torta no céu / Não há nenhum guru quem possa enxergar através de seus olhos” (um recado a George Harrisson) e no trecho “Eu vi drogados, eu já passei por tudo / Eu vi religiões de Jesus a Paul”.

“Working class hero” mostra que Lennon após o fim dos Beatles tinha mais liberdade para falar sobre assuntos mais sérios, como o ativismo político. “Isolation” fala sobre o sentimento de solidão e isolamento que as pessoas passam no decorrer de suas vidas. “Remember” é sobre as lembranças do passado, enquanto “Love” é sobre o amor puro e simples. 

O jeito gritado de cantar de Lennon em “Well, well, well” mostra de onde artistas como Kurt Cobain se inspiraram. “God” tem uma das letras mais fortes de John, falando que “Deus é um conceito / Pelo qual medimos nossa dor”. Na letra ainda fala que não acredita na Bíblia, Jesus, Elvis, Zimmerman (Bob Dylan) e nos Beatles e que só acreditava nele e Yoko. No final decreta: “Eu era a morsa / Mas agora sou John / Então queridos amigos / Vocês precisam continuar / O sonho acabou”. “My mummy´s dead” é o epitáfio que fala da trágica morte de sua mãe.

O álbum chegou ao oitavo lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e sexto na Inglaterra. É considerado por muitos o melhor trabalho solo de John Lennon e um dos melhores lançados por um ex-Beatle. Após este disco, Lennon se sentiu de certa forma mais livre de seus fantasmas do passado e com mais força para continuar sua brilhante carreira. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário