10 de abril de 2017

Spirit - Depeche Mode lança seu melhor disco dos últimos vinte anos

Formado em Essex, Inglaterra, em 1980, o Depeche Mode surgiu na leva do Synthpop, juntamente com bandas como Soft Cell, Ultravox entre outras. Com o passar do tempo foi lapidando seu som e a partir do disco Black Celebration, de 1986, onde passou a ter uma sonoridade mais “dark” e densa, começou a se transformar em uma das bandas de maior sucesso e influência da década de oitenta.


Com uma carreira praticamente irretocável e uma discografia sem muitos deslizes, a banda lançou este ano o politizado Spirit, seu décimo quarto álbum de estúdio. O disco ganhou um significado a mais depois das declarações do neonazista e apoiador de Donald Trump, Richard Spencer, que também é fã do Depeche há muito tempo, dizer que a banda tem o som da “nova direita”. Spirit se mostra uma resposta a este insulto, com letras que criticam o avanço do conservadorismo e da extrema direita ao redor do mundo.

O álbum abre com a colossal “Going Backwards”, uma canção de abertura com uma força que há tempos não víamos em um disco da banda. Com uma belíssima letra e arranjos com a marca registrada do Depeche Mode, com aqueles timbres de sintetizadores e batidas eletrônicas de extremo bom gosto. Nesta canção Martin L. Gore critica a sociedade atual, dizendo que estarmos voltando para trás, para o tempo das cavernas: “Nós estamos retrocedendo / Armados com novas tecnologias / Retrocedendo / Para uma mentalidade de homens das cavernas”.

Em “Where´s the revolution” a banda pergunta onde está a revolução e se mostra decepcionada com a falta de atitude do mundo em geral em relação aos abusos de políticos e governantes. Uma outra canção muito forte com um refrão que ao vivo deverá funcionar muito bem. “The worst crime” tem um ritmo que na primeira audição poderá soar um pouco monótono, mas vai envolvendo o ouvinte aos poucos, com uma letra que pergunta: “Como podemos ter cometido o pior crime?”.


“Scum” é umas das melhores músicas do disco, com uma batida forte e um clima tenso, tem uma letra que pergunta o que fazemos para melhorar o mundo. “You move” é o que de mais próximo eles chegaram no disco de sua sonoridade dos anos oitenta, com um clima mais dançante e uma letra que não fala de política, mas sim de alguém que está sendo seduzido pela dança de outra pessoa.

“Cover me” é uma belíssima balada, que emociona sem ser piegas. “Eternal” é uma declaração de amor, cantada por Martin L. Gore, enquanto “Poison heart” (não é cover do Ramones), composta pelo vocalista Dave Gahan, tem um clima meio trip hop com um belo arranjo de guitarras, falando sobre uma decepção amorosa. Outro ponto alto de Spirit.

“So much love” não deixa a peteca cair e dá continuidade ao clima do álbum, já “Poorman” tem um ritmo meio blues, falando sobre uma pessoa que vive nas ruas. “No more (This is the last time)” é outra linda canção, com a tradicional interpretação segura e concisa do vocalista Dave Gahan. “Fail”, cantada por Martin L. Gore encerra o disco concluindo que estamos falhando como seres humanos neste mundo: “Pessoas, como estamos lidando? / É inútil até mesmo começar esperando / Que a justiça prevalecerá / Que a verdade vai derrubar as previsões / Nossa dignidade naufragou / Oh, nós falhamos”.


Em Spirit vemos um Depeche Mode mais engajado e politizado, algo que nunca foi característico na banda. Com arranjos mais concisos e seguros e canções bem inspiradas, Spirit se consolida como o melhor trabalho da banda, nos últimos vinte anos, desde Ultra de 1996. O Depeche Mode agora embarca em uma turnê mundial que chegará ao Brasil em março, no melhor estádio do Brasil. Com certeza várias músicas deste álbum estarão no setlist e não farão feio perto dos inúmeros sucessos do grupo. 


2 comentários:

  1. Texto muito bom! Me deixou com mais vontade ainda de conferir esse álbum!O vocal do Dave está muito bom nesse vídeo ao vivo que vc postou. Eu tenho um cd/dvd Touring the Angel de 2006 e a voz dele estava bem fraca.
    É vc que escreve todos os textos desse blog?

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    1. Fala Milton! Este disco é muito bom mesmo, os caras provaram que ainda tem algo de relevante a dizer. Eu escrevo todos os textos sim. Obrigado por ler o blog! Abraço!

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